terça-feira, 19 de abril de 2011

FUTEBOL FEMININO - Crescimento exponencial sustentado ou não sustentado?

É visível para todos os que neste pequeno Mundo do futebol feminino coabitam que a nossa modalidade cresce a olhos vistos em Portugal, não só pelas belíssimas campanhas que a nossa selecção tem feito nos últimos tempos mas também pela dedicação, suor e árduo trabalho que todas as equipas têm entregue tendo em vista o crescimento e desenvolvimento da nossa paixão.
No entanto fica no ar a pergunta, será este crescimento exponencial sustentado e com bases para se solidificar ou será que estamos a "crescer à pressa"?

Olhemos para o formato dos nossos campeonatos... Será este o modelo ideal para um campeonato que se quer amadurecer e preparar para outros voos?! Serão estes quadros competitivos o suficiente para criar equipas e jogadoras em Portugal capazes de ombrear com selecções e equipas teoricamente superiores?! Para chegarmos a um patamar elevado teremos de repensar e discutir qual ou quais os melhores modelos competitivos para que o crescimento das atletas e da competitividade acompanhe o crescimento que todos queremos "impor" à nossa modalidade. Nunca ninguém viu uma criança tornar-se adulta sem as devidas fases de crescimento. Será que a mudança dos quadros competitivos não devia ser o primeiro passo que a "criança" devia dar?!

Atentemos agora noutra palavra chave no crescimento da nossa modalidade, a formação. Felizmente em Portugal parece-me que a palavra formação começa a fazer parte do vocabulário da maior parte das equipas, de maneira diferente em cada uma delas, mas presente em várias. Seja uma formação direccionada e pensada para o crescimento das atletas enquanto jogadoras de futebol, a dar os primeiros passos, e que segue uma fase de acompanhamento e direcção capaz de criar condições para proporcionar um crescimento gradual e acentuado nas atletas mais jovens, ou seja pura e simplesmente uma preocupação em ter no leque de atletas um grupo de "menor idade" que permite uma diferente moldagem e aperfeiçoamento diferente de uma atleta adulta e madura, a realidade é que a "formação" está presente em praticamente todos os clubes. No entanto, a formação no verdadeiro sentido da palavra ainda não é preocupação em todos os clubes, seja por falta de condições, por falta de atletas, por falta de competição, ou até mesmo por falta de vontade, os clubes portugueses ainda não se habituaram à ideia do "formar para educar". Quais as soluções possíveis? Obrigar será solução ou retrocesso? Como opinião pessoal, a formação é o principal caminho para o crescimento da modalidade. A criação de campeonatos de formação em paralelo com os campeonatos séniores é um dos caminhos, quanto a mim, válidos e coerentes para uma constante e gradual evolução da modalidade, campeonatos estes que poderiam ser disputados em formatos de campo reduzidos, como por exemplo o futebol de 7, para cimentar aspectos técnico-tácticos e para criar rotinas de jogo de equipa antes da evolução para o futebol de 11. Campeonatos nacionais de escalões de formação eram, sem dúvida, um passo de gigante para a evolução. Não faz sentido continuarmos ainda hoje a "subir" atletas sub-14 para séniores, querendo e crendo que a sua evolução será a mesma do que se fizesse um crescimento acompanhado e sustentando, durante todas as fases de uma processo evolutivo a que deveria ter direito. Obviamente que o crescimento desses campeonato também deveria ser gradual, sendo praticamente impensável criar campeonato de escolas até séniores por ser quase certa a falta de atleta, mas a inclusão de um campeonato de júniores (sub-19) e juvenis (sub-17) poderia ser uma mais valia a curto prazo, acompanhando também os respectivos escalões de formação na selecção nacional. Obrigar não me parece de todo a melhor hipótese pois sabemos que há equipas, pelas mais variadíssimas razões, que não vão poder acompanhar este crescimento de forma instantânea mas sim de forma gradual e temporal. Como tal, só deveriam entrar nestes campeonatos as equipas que quisessem, sendo que um estudo prévio devia ser feito para determinar o formato da competição e a melhor maneira de coordenar esta inovação. Já existem várias equipas com formação em Portugal e, recentemente, uma dessas equipas decidiu dar o primeiro passo na competição com uma das suas equipas de formação, o que é uma bela iniciativa, mas ao mesmo tempo acaba por ser uma competição desigual e inapropriada para o crescimento das atletas. Mesmo assim, bato palmas ao 1º de Dezembro pela iniciativa e coragem empregues neste salto para a competição.

Condições materiais também são um importante aspecto para o crescimento deste nosso "mundinho". Ainda hoje continuarmos com "campos pelados" parece-me descabido e surreal para uma modalidade que tanto cresceu. Obviamente não concordo que seja obrigatório jogar em campo relvado ou sintético pois isso iria arruinar a modalidade (tivemos o exemplo com a Oliveirense que ao não ter medidas num campo sintético viu-se obrigada a desistir porque não tinha onde jogar...) mas acredito que algum tipo de incentivo por parte das entidades superiores poderia facilitar a vida às equipas de futebol feminino, conseguindo com maior facilidade um campo onde treinar e jogar que aumentasse o nível das condições para a prática da modalidade. Obrigar o uso de campos relvados ou sintéticos muito provavelmente iria fazer com que algumas equipas deixassem de existir e isso não é solução. Solução será apoiar as equipas que não têm campo relvado/sintético próprio para que estas consigam um "apoio externo" para treinos e jogos e esse passo deve ser dado pelas entidades superiores, como a federação e as associações.

Por fim, decidi falar na formação profissional para todos os intervenientes, desde os treinadores, às atletas, aos árbitros, aos dirigentes e afins. Para dignificar esta modalidade os intervenientes devem conhecer a mesma, respeita-la e dignificar o que se faz para o crescimento da mesma. É necessário que todos os elementos intervenientes entendam o jogo e conheçam a história da modalidade, de forma a que o respeito pela mesma seja igual de todas os ângulos. Infelizmente ainda hoje se sente o estigma desta modalidade ser o "futebol praticado por meninas" e se sente o desrespeito, muitas vezes sem intenção, pelas atletas, pelos clubes, pelos treinadores, pelos dirigentes e pela modalidade...

A perguntas que ficam são que Mundo é este? Está a crescer correctamente ou faltam-lhe os alicerces? Os passos estão a ser dados correctamente ou andamos a dar 1 passo à frente e 2 para trás? Resta-nos discutir, criticar, evoluir e esperar que esta nossa modalidade cresça conforme deve e se torne aquilo que todos queremos, um desporto como qualquer outro, com todos os direitos e deveres que lhe são conferidos, de maneira a podermos daqui a uns anos dizer que nós vimos o nascer e o crescer desta criança e lhe demos a mão para a ajudar a ser aquilo que ela será na altura!


Diogo Pacheco
(Treinador do G.D. Incansáveis)

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